É preciso falar de indianos ários e dravidianos? A questão é antiga, mas os resultados fascinantes de uma escavação feita em Rakhigarhi, de Haryana, oferecem uma oportunidade para reexaminá-la.
Estes resultados são o foco da matéria de capa da edição desta semana da revista India Today: O ADN obtido de um esqueleto masculino de 4.500 anos do Vale do Indo (chamemos-lhe o homem de Rakhigarhi) mostra que os antigos denizens da área eram “uma mistura de duas populações”: ‘Antigos índios ancestrais do Sul’ e ‘agricultores iranianos’ — um grupo não nativo do subcontinente.
Mas aqui está a parte interessante. Este DNA não continha R1a1 — material genético de uma população da Ásia Central que se espalhou há quatro milênios. Como diz a reportagem da revista, R1a1 é “frequentemente chamado vagamente de ‘o gene ariano'”, e é “fortemente associado com populações de alta casta de índios do Norte”: “O povo e a cultura da civilização do Vale do Indo eram distintos da população aparentemente associada ao início da civilização Védica (hindu)”
MAGAZINE |3 vertentes de ascendência
Existem mais. Um rascunho do artigo científico que detalha a escavação Rakhigarhi postula que o homem Rakhigarhi está mais intimamente relacionado com os Irula, uma comunidade tribal indiana do sul, do que as populações indianas com maior grau de ascendência relacionada com a Eurásia Ocidental. Também sugere que os cidadãos da era do Vale do Indo da área provavelmente falavam uma língua dravidiana primitiva.
Então, à luz de tudo isso, o que fazemos da chamada Teoria da Invasão Ariana — uma incursão de animais de estimação dos nacionalistas hindus? Pode a população da Índia ser considerada em grande parte ancestral e indígena, ou não?
A questão é delicada e politicamente carregada. A reportagem da revista India Today descreve o relato de um acadêmico de Harvard sobre a “extrema sensibilidade” demonstrada por cientistas indianos em 2008 sobre as indicações de migração eurasiática para o subcontinente. “A questão”, diz a reportagem, “foi finalmente resolvida por meio de um truque terminológico de utilização da nomenclatura ‘Ancestral South Indian’ (ASI) e ‘Ancestral North Indian’ (ANI) para obscurecer a revelação de que a ANI representava uma população com uma contribuição genética significativa de fora do subcontinente”
O homem Rakhigiri agora justificou os dravidianistas e deu causa à direita hinduísta para chocar? Bem, estamos a falar de ciência, então a interpretação dos resultados é melhor feita com uma dose de moderação. Como a reportagem da revista aponta, populações no subcontinente se misturaram com outras de dentro e de fora, e “também não há população na região que possa afirmar representar uma linhagem ‘pura’ de índios antigos”
“Qualquer impulso para equiparar as aparentes afinidades Dravidianas do antigo povo do Vale do Indo com a cultura e o povo do sul da Índia de hoje ou para lançar este último como os ‘habitantes originais’ do subcontinente seria um exagero.”
Adicionar a tudo isto o facto de a Índia ter testemunhado uma fase de endogamia — a prática de casar dentro das comunidades — e você obtém uma imagem bastante complexa.
Se o homem Rakhigiri pudesse escrever um post no Facebook hoje, ele provavelmente diria, “É complicado”.