Inflammatory Spondyloarthropathy
Spondyloarthropathy é um termo usado para um grupo de distúrbios artríticos inflamatórios em que o envolvimento das enteses espinhais (inserções ligamentares) é proeminente (Thomson e Inman, 1990). Em humanos, estas desordens incluem espondilite anquilosante, artrite reactiva pós-infecciosa, síndrome de Reiter (uretrite pós-reactiva, conjuntivite e artrite), artrite psoriásica e artrite associada a doença inflamatória intestinal (Thomson e Inman, 1990; Mielants et al., 1991; El-Khoury et al., 1996). Embora a coluna vertebral seja comumente afetada, estas desordens são frequentemente associadas com artrite que afeta as articulações sinoviais, particularmente as articulações sacroilíacas (Thomson e Inman, 1990). A partir de estudos esqueléticos, a espondiloartropatia parece generalizada entre as espécies de mamíferos (Rothschild e Woods, 1992b; Rothschild et al., 1993, 1994, 1997; Rothschild e Rothschild, 1994). Muitas espécies, incluindo ursos, hienas e elefantes, são susceptíveis a esta doença. Primatas do Velho Mundo, como o gorila (Rothschild e Woods, 1989), gibão, chimpanzé, orangotango, babuíno, macaco Diana e rhesus macaque (Sokoloff et al., 1968; Nall e Bartels, 1973; Rothschild e Woods, 1991, 1992b, 1992c; Swezey et al, 1991; Rothschild e Rothschild, 1996; Rothschild e Woods, 1996; Rothschild et al.,1997; Rothschild, 2005; Rothschild e Rühli, 2005a, 2005b) e os primatas do Novo Mundo, como os micoses (Callithrix jacchus) (Rothschild, 1993a) podem ser afectados. Dentro de uma espécie como o gorila, a distribuição anatômica da espondloartropatia pode variar em diferentes subespécies. Isto sugere diferenças na etiologia da doença que podem estar relacionadas com diferenças de habitat (Rothschild, 2005; Rothschild et al., 2005b).
Tem sido sugerido que a espondiloartropatia é particularmente prevalecente em espécies grandes como os primatas, mas, se assim for, a etiopatogenia para esta observação permanece obscura (Nunn et al., 2007) A espondiloartropatia aparece particularmente prevalecente entre as populações de babuínos contemporâneos selvagens e cativos (Rothschild e Rothschild, 1996) e tem aumentado de frequência nos grandes símios, babuínos e macacos rhesus (Rothschild, 2005). Isto sugere a presença de um novo fator patogênico no ambiente e uma possível predisposição genética. Contudo, estudos mais recentes sobre a etiologia da artrite/espondiloartropatia reactiva em três subespécies de Pan, incluindo o Paniscus, o bonobo sexualmente promíscuo (anteriormente conhecido como o chimpanzé pigmeu), levaram à conclusão de que os padrões de espondiloartropatia específicos do habitat provavelmente não se devem à transmissão sexual de um agente infeccioso, mas sim à exposição diferencial a patogénios bacterianos infecciosos relacionados com a enterite, tais como Shigella ou Yersinia (Rothschild e Rühli, 2005a).
Em humanos, o marcador de histocompatibilidade HLA-B27 está associado, mas não exclusivamente, com a predisposição para espondilite anquilosante. Em macacos rhesus, a artrite reativa pode se desenvolver na ausência de uma molécula semelhante ao HLA-B27 (Urvater et al., 2000). Gorilas com espondiloartropatia expressam uma molécula MHC classe I que difere estruturalmente do HLA-B27, mas ambas as moléculas ligam arginina contendo peptídeos de maneira semelhante (Urvater et al., 2001). Comum a pacientes com espondiloartropatia é a maior reatividade a bactérias (Repo et al., 1990) e antígenos clamídios (Rahman et al., 1992). Esta reação exagerada à lesão afeta preferencialmente as respostas inflamatórias neutrófilas e a atividade linfocitária T (Repo et al., 1990; Toussirot et al., 1994). É provável que múltiplos agentes etiológicos induzam esta atividade inflamatória anormal. Além dos fatores genéticos, a infecção viral crônica, incluindo o vírus da imunodeficiência, deve ser considerada (Mijiyawa, 1993). De particular interesse para a espondiloartropatia de primatas não humanos é a associação de espondiloartropatia humana e artrite reativa após a enterocolite bacteriana Gram-negativa. A enterocolite bacteriana é um distúrbio enzótico comum entre os primatas não humanos, tanto nas populações cativas como selvagens (Paul-Murphy, 1993; Raphael et al., 1995). Tal como com os humanos, é razoável sugerir que uma parte da população de primatas não humanos tem uma reactividade inflamatória exagerada aos antigénios bacterianos. Pensa-se que a distribuição preferencial da espinal e sacroilíaca desta doença esteja relacionada com o rastreamento de antígenos bacterianos ou clamídios dos sítios de inflamação intestinal ou uretral para as inserções ligamentares nas vértebras. Contudo, a proximidade da inflamação da coluna vertebral pode não ser um requisito obrigatório. A poliartrose e a esiesopatia ossificante podem ser induzidas em ratos usando a injeção de colágeno tipo II na base do pé como agente patogênico (Gillet et al., 1989). As principais características da inflamação espondiloartrítica são sua persistência em baixa intensidade e indução de nova formação óssea. As lesões erosivas e as lesões articulares aparecem relacionadas à hiperplasia de células sinoviais e à liberação de citocinas, enquanto o crescimento dos osteófitos e o processo final da anquilose devem ser considerados como um processo de reparação exagerada da inflamação crônica.
Smith et al. tentaram induzir experimentalmente artrite reativa em rhesus macaques por injeção intra-articular de organismos Bedsonia isolados da articulação de um paciente com síndrome de Reiter. Entretanto, apenas uma artrite limitada e local na articulação injetada foi observada (Smith et al., 1973).
A espondiloartropatia crônica produz uma deformidade fixa visível da coluna dorsal (Figuras 13.12 e 13.13). Ao exame grosseiro, o achado mais típico na espondiloartropatia é a osteofitose que se desenvolve nos aspectos laterais dos corpos vertebrais. A extensão e coalescência dos osteófitos resulta em anquilose. A anquilose pode afectar outras articulações, particularmente as articulações sacroilíacas. Acompanhando a anquilose, tanto na coluna vertebral como nas articulações periféricas, pode ser observada uma artrite erosiva que consiste na ruptura das margens ósseas e articulares das articulações nos locais de inserção ligamentar (enteses). Microscopicamente, em áreas de doença ativa, pode ser observada uma reação inflamatória mista aguda e crônica que consiste de neutrófilos, linfócitos e células plasmáticas (Sokoloff et al., 1968; Cawley et al., 1972; Agarwal et al., 1990). Estas células estão presentes num tecido conjuntivo fibroso solto com vasos sanguíneos capilares proeminentes. Onde as articulações sinoviais são afetadas, observa-se hiperplasia de células de revestimento sinovial. Similar à artrite reumatóide, sinóvia pode ser vista na borda dianteira das erosões que invadem a margem articular.
A susceptibilidade dos primatas não humanos tanto à espondiloartropatia quanto à enterocolite crônica sugere que estes animais são particularmente adequados para o desenvolvimento de uma doença modelo. Tal modelo poderia levar a uma melhor compreensão da espondiloartropatia em humanos. As tentativas experimentais para desenvolver tais modelos com antigénios bacterianos ou clamídios sobrepõem-se aos modelos propostos para a artrite reumatóide. Estes modelos serão discutidos mais adiante neste capítulo.