Em 14 de Janeiro de 2015, o agente da polícia Newton Ishii esperava no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para se encontrar com o voo da meia-noite de Londres. A sua missão era simples. Um ex-executivo da companhia petrolífera nacional do Brasil, a Petrobras, estava no avião. Ishii deveria prendê-lo assim que pusesse os pés no Brasil e levá-lo para ser interrogado por detetives.

Nada demais, pensou o policial veterano enquanto passava as horas no maldito salão do Terminal Um. Esta foi apenas uma das muitas operações antissuborno em que ele tinha trabalhado. Normalmente eles faziam algumas manchetes, e depois desvanecíam-se, deixando os perpetradores a continuarem como se nada tivesse acontecido. Havia uma expressão popular para isso: acabou em pizza (para acabar com pizza), o que sugeria que não havia fila política que não pudesse ser resolvida com uma refeição e algumas cervejas.

Quando o avião finalmente pousou, o alvo de Ishii era fácil de identificar entre os passageiros na sala de chegadas. Nestor Cerveró tem uma cara marcadamente assimétrica, com o olho esquerdo colocado mais abaixo do que o direito. “Ele não podia acreditar. Ele disse que eu havia cometido um erro”, lembrou Ishii mais tarde. “Eu disse-lhe que estava apenas a fazer o meu trabalho e que ele podia tratar das suas queixas com o juiz”

Cerveró telefonou ao seu irmão e a um advogado. Ele esperava estar livre antes da manhã. Ishii também tinha poucas ilusões de que o seu suspeito ficaria preso por muito tempo. Décadas na força haviam lhe ensinado quão rapidamente os ricos e poderosos poderiam se livrar do gancho. Não havia motivos para pensar que este caso seria diferente.

Como acabou, ambos os homens estavam errados.

A investigação que levou à prisão de Cerveró – codinome Lava Jato (Lavagem de Carros) – estava prestes a desvendar uma teia de corrupção sem precedentes. No início, a imprensa descreveu-a como o maior escândalo de corrupção da história do Brasil; depois, como outros países e empresas estrangeiras foram arrastados para dentro, o mundo. O caso continuaria a descobrir pagamentos ilegais de mais de US$ 5 bilhões a executivos de empresas e partidos políticos, colocava bilionários na cadeia, arrastava um presidente à justiça e causava danos irreparáveis às finanças e à reputação de algumas das maiores empresas do mundo. Também exporia uma cultura de enxerto sistêmico na política brasileira, e provocaria um retrocesso do establishment suficientemente forte para derrubar um governo e deixar outro à beira do colapso.

Lançada em março de 2014, a operação tinha inicialmente focado em agentes conhecidos como doleiros, que usavam pequenas empresas, como postos de gasolina e lavadoras de carros, para lavar os lucros do crime. Mas a polícia logo se deu conta de que estava em algo maior quando descobriu que os doleiros estavam trabalhando em nome de um executivo da Petrobras, Paulo Roberto Costa, o diretor de refinação e abastecimento. Esse link levou os promotores a descobrir uma vasta e extraordinariamente intrincada teia de corrupção. Sob questionamento, Costa descreveu como ele, Cerveró e outros diretores da Petrobras estavam pagando deliberadamente a mais por contratos com várias empresas de construção de escritórios, sondas, refinarias e embarcações de exploração. Os empreiteiros que estavam pagando tinham formado um acordo para garantir-lhes negócios em termos excessivamente lucrativos se concordassem em canalizar uma parte de 1% a 5% de cada negócio para fundos secretos.

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Oil executive Nestor Cerveró, cuja prisão marcou um ponto de viragem na investigação da corrupção na Lavagem de Carros. Fotografia: Evaristo Sa/AFP/Getty

Depois de desviar milhões de dólares para esses fundos, os diretores da Petrobras usaram-nos para canalizar dinheiro para os políticos que os tinham nomeado em primeiro lugar, e para os partidos políticos que representavam. O principal objetivo do barulho – que fugiu dos contribuintes e acionistas de bilhões de dólares – era financiar campanhas eleitorais para manter a coalizão governista no poder. Mas não foram apenas os políticos que beneficiaram. Todos os ligados aos negócios receberam um suborno, em dinheiro, ou às vezes na forma de carros de luxo, obras de arte caras, relógios Rolex, garrafas de vinho de 3.000 dólares, iates e helicópteros. Grandes somas foram depositadas em contas bancárias suíças, ou lavadas através de negócios imobiliários no exterior ou em empresas menores. Os meios de transferência eram deliberadamente complicados, a fim de esconder as origens do dinheiro, ou de baixa tecnologia, para mantê-lo fora dos livros. Os promotores descobriram que mulas idosas voavam de cidade em cidade com tijolos de dinheiro amarrados aos seus corpos.

Petrobras não era uma empresa comum. Além de ter a maior valorização do mercado (e a maior dívida) de qualquer corporação na América Latina, era um carro-chefe para uma economia emergente que estava tentando aproveitar a maior descoberta de petróleo do século 21 – enormes novos campos de petróleo em águas profundas ao largo da costa do Rio de Janeiro. A Petrobras foi responsável por mais de um oitavo de todos os investimentos no Brasil, proporcionando centenas de milhares de empregos em empresas de construção civil, estaleiros e refinarias, e formando laços comerciais com fornecedores internacionais, incluindo Rolls-Royce e Samsung Heavy Industries.

Petrobras também esteve no centro da política brasileira. Durante a presidência de 2003-2010 do líder do Partido dos Trabalhadores Luiz Inácio Lula da Silva (conhecido como Lula), cargos executivos na Petrobras foram oferecidos aos aliados políticos de Lula, para ajudar a construir apoio no Congresso. A importância comercial e estratégica da Petrobras foi tal que a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos fez dela um alvo de vigilância. Como a investigação da Lavagem de Carros era para provar, se você pudesse desvendar os segredos desta empresa, você desvendaria os segredos do estado.

Primeiro, porém, os investigadores tinham que fazer com que os executivos falassem. Até muito recentemente, isso teria sido impensável. Uma cultura de impunidade já reinava há muito tempo no Brasil. Mas os tempos estavam mudando, como o executivo da Petrobras, Nestor Cerverò, estava prestes a descobrir. Quando ele viu o estado do colchão no centro de detenção do aeroporto, ele fez uma birra. “Como vou deitar-me nisto?”, disse ele.

“Ou é isso ou dormir de pé”, respondeu Ishii. Dentro de uma hora, Cerverò tinha adormecido, apenas para ser sacudido do seu sono às 6 da manhã.

“Onde está o meu pequeno-almoço?” ele exigiu.

“Não vais ter um”, respondeu Ishii. “Vou te levar para Curitiba”.

Curitiba, o coração da investigação da Lavagem de Carros, é a capital do sul do estado do Paraná. Para os padrões brasileiros, a 845km não é longe do Rio, mas culturalmente, são mundos à parte. Curitiba é conhecida como a “Londres do Brasil” porque seu povo é considerado mais inclinado a aderir às regras do que os moradores das grandes cidades do norte. Nos últimos anos, ganhou elogios internacionais por seu sistema pioneiro de transporte público, políticas ambientais e cenário hipster. Graças à Operação Lavagem de Carros, no entanto, ela é agora mais conhecida por seus juízes, promotores e policiais.

Sem uma simples reforma, no entanto, a investigação pode nunca ter decolado. Dilma Rousseff assumiu o lugar de Lula como líder do Partido dos Trabalhadores e tornou-se presidente de uma coalizão governamental após as eleições de 2010. Na sequência das manifestações nacionais contra a corrupção em 2013, Dilma Rousseff tinha tentado aplacar um público furioso através de leis rápidas destinadas a erradicar a fraude sistémica. Novas medidas incluíram, pela primeira vez no Brasil, a negociação judicial: os promotores podiam agora fazer acordos com os suspeitos, reduzindo suas penas em troca de informações que poderiam levar à prisão de figuras mais importantes.

Averiguando o caso em Curitiba estava Sérgio Moro, um jovem juiz ambicioso que ajudou os promotores a pressionar os suspeitos, aprovando longas “detenções preventivas”. Na esmagadora maioria dos casos, os prisioneiros brasileiros que se encontram em prisão preventiva antes do julgamento são pobres. Moro deu o passo incomum de também negar fiança aos ricos. Ostensivelmente, ele o fez para impedi-los de usar influência econômica ou política para escapar de qualquer acusação contra eles. Contudo, a pressão estava sobre eles: fazer um acordo ou permanecer na prisão.

Cerveró não foi o primeiro a enfrentar esta escolha. Ele se juntou a um desfile de suspeitos da VIP Car Wash – executivos de empresas, empresários ricos e, mais tarde, até mesmo um ou dois políticos poderosos – que passaram meses dentro do centro de detenção de Curitiba. Eles tinham que ser mantidos separados de outros presos para sua própria segurança, o que significava que seu lado da cadeia rapidamente se tornou superlotado. Tendo vivido no luxo, estes prisioneiros super-ricos foram espremidos de três para uma cela de um homem só. As suas novas circunstâncias vieram como um choque. “Um cara não sabia fazer a barba porque sempre o tinha feito por ele”, disse um guarda, que pediu para permanecer anônimo. Cerveró aparentemente teve sérios problemas de adaptação. Seus companheiros de cela reclamaram que ele urinou neles durante a noite e lavou as costas na pia.

Policial brasileiro Newton Ishii, que se tornou um herói para muitos por seu papel na investigação da lavagem de carros. Fotografia: Hedeson Alves/EPA

Se os presos se recusassem a cooperar com a acusação, privilégios como a TV e o exercício eram retirados. “Muitos suspeitos fizeram acordos após uma visita dos seus entes queridos”, disse o guarda. “Acho que foi porque sentiram o cheiro do perfume e do sabão das vidas que tinham deixado para trás.” Alguns resistiram durante meses, outros apenas dias. Mas quase todos quebraram no final.

Os advogados de defesa reclamaram, com alguma justificação, que essas táticas eram legalmente duvidosas e antiéticas, porque os réus diriam ou fariam qualquer coisa para sair da cadeia. Mas as sondagens indicavam que o público estava encantado com o facto de o antigo problema da corrupção estar finalmente a ser exposto numa grande operação a nível nacional. Quase todos os dias, detalhes de uma batida de madrugada da polícia ou outra alegação chocante foram espalhados pelas primeiras páginas: mais de US$ 2 bilhões desviados da Petrobras em subornos e pagamentos secretos por trabalho contratado, US$ 3.3bn pagos em subornos pela construtora Odebrecht, mais de 1.000 políticos na compra da empresa de frigoríficos JBS, 16 empresas implicadas, pelo menos 50 congressistas acusados, quatro ex-presidentes sob investigação.

Quando surgiu a escala surpreendente da fraude, muitos brasileiros concentraram sua fúria nos políticos – inicialmente Lula, Rousseff e outros do Partido dos Trabalhadores. Os jornais tropeçaram na mensagem de que os socialistas sujos de Brasília eram os únicos responsáveis pelo problema. A realidade era consideravelmente menos clara. Quase todos os grandes partidos estavam envolvidos em múltiplas e interligadas trilhas de corrupção que remontavam aos governos anteriores. E foi o Partido dos Trabalhadores que colocou em prática as reformas judiciais que permitiram que a investigação avançasse. Não teria havido uma lavagem de carros se o governo não tivesse nomeado, em setembro de 2013, um procurador geral independente.

Os colunistas de jornais contrastaram o mundo sujo da política com o trabalho de alto nível do judiciário na “República de Curitiba”. Quando o Juiz Moro entrava num restaurante, as pessoas se levantavam e aplaudiam. Grafites nas paredes e faixas drapeadas das varandas dos apartamentos declaravam “Deus salve Moro”. Protestantes nas ruas empunhavam cartazes declarando “Moro para presidente”. A polícia federal também ganhou elogios. Ishii tornou-se o rosto público da investigação: como o agente acusado de levar os suspeitos do aeroporto para o centro de detenção e para o tribunal, ele estava em quase todas as fotos e vídeos relacionados com o caso. Nas redes sociais e nas manchetes, ele foi apelidado de Japones Bonzinho (o Bom Japonês). No carnaval, ele foi homenageado com uma boneca de seis metros de altura e uma canção de homenagem ao samba, com letras imaginando um suspeito que acorda para descobrir que ele é o último alvo da Operação Lavagem de Carros: “Oh meu Deus, eu estou politicamente morto! Bater à minha porta é o alimentador japonês”

Máscaras de Carnaval feitas à semelhança de Newton Ishii. Fotografia: Felipe Dana/AP

Em pessoa, Ishii é circunspecto e austero. Quando o visitei em seu modesto apartamento em Curitiba, ele teve o cuidado de minimizar seu papel. Ele explicou que sua celebridade havia chegado ao ponto em que se sentia encurralado. Em um evento público, ele foi cercado por membros adoradores do público e teve que ser escoltado por seguranças. Um policial de trânsito o mandou encostar para pedir seu autógrafo. Bizarramente, até os parentes dos prisioneiros do Car Wash lhe pediam para compartilhar selos e dizer o quanto admiravam seu trabalho.

Ishii disse que ele percebeu que Car Wash era algo especial quando viu homens de negócios ricos não só irem para a cadeia, mas ficarem lá. “Foi quando o centavo caiu. Comecei a pensar, ei, estou num país onde há uma expressão, ‘Só os pobres são presos’ – mas aqui estão estes milionários a serem atirados para a prisão”

Mais estava para vir. De executivos de empresas, os investigadores da Car Wash voltaram a sua atenção para os políticos. Senadores e congressistas desonestos e venais há muito que estavam protegidos pela imunidade do cargo. Mas uma janela para acusação estava a abrir-se. O poder judicial estava no ascendente, o eleitorado estava louco como o inferno, e velhas lealdades começavam a ceder. Tudo o que os promotores precisavam era de um pouco de influência.

Para atrair um dos políticos mais poderosos do Brasil, os promotores planejavam uma operação de picada, usando o Nestor Cerveró da Petrobras como isca. O senador Delcídio do Amaral, líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara Alta, era um antigo associado do Cerveró. Eles haviam trabalhado juntos na Petrobras entre 2000 e 2001. Depois disso, Cerveró havia se tornado o fiel servidor de Amaral, levantando contribuições ilegais para qualquer partido com o qual o inconstante senador estivesse alinhado. Após a prisão de Cerveró, Amaral sabia que estava em risco de exposição. Desesperado para encontrar uma forma de desencorajá-lo de falar, Amaral combinou de encontrar o filho de Cerveró, Bernardo, em Brasília.

Em 4 de novembro de 2015, Amaral reuniu-se com Bernardo Cerveró no Hotel Royal Tulip. Sem saber que Bernardo estava gravando secretamente a conversa, o senador fez uma série de declarações incriminatórias, que mais tarde foram vazadas para a imprensa. Amaral ofereceu-se para pagar $1m adiantado, mais outros $13.000 por mês, em troca do silêncio de Nestor Cerveró. Quando isto foi rejeitado, ele disse que podia arranjar a fuga do pai de Bernardo da prisão.

“Como?” Bernardo perguntou.

Primeiro, explicou Amaral, ele usaria sua influência sobre um determinado juiz para conseguir que Cerveró fosse transferido de sua cela e colocado em prisão domiciliar. Então, ele descreveu em detalhes como a etiqueta eletrônica do prisioneiro poderia ser desativada, para que ele pudesse fugir sem ser detectado. A Cerveró poderia então fretar um avião privado para o vizinho Paraguai. Amaral arranjaria tudo.

Assim que os juízes ouviram a gravação, ordenaram que o senador fosse detido sob acusações de conspiração para obstruir a justiça. Foi uma decisão memorável. Nenhum senador tinha sido preso em 30 anos.

Amaral foi detido na manhã de 26 de Novembro de 2015. Ele concordou imediatamente em cooperar com os investigadores e contar-lhes tudo o que sabia sobre as actividades ilegais dos seus colegas políticos, incluindo o então presidente Rousseff, que ele acusava de conspirar para obstruir a justiça. Ele apontou o ex-presidente Lula como o mentor do esquema de corrupção da Petrobras.

O senador alegou que foi Lula quem organizou os pagamentos e instou-o a tirar Cerveró do país, porque ele queria proteger um amigo próximo que tinha estado envolvido em negociações entre políticos e funcionários de companhias petrolíferas. Lula e Rousseff negaram as alegações e acusaram Amaral de mentir para se salvar. “Nunca imaginei que ele fosse tão escroto”, disse Jaques Wagner, ex-chefe de gabinete de Rousseff, a Lula em um telefonema gravado pela polícia. Mas enquanto seus críticos o acusavam de uma traição espetacular, Amaral pintou seu testemunho sob uma luz heróica, dizendo que estava fazendo um favor à nação ao expor os poderosos à justiça.

“Porque eu era alguém que estava falando com o governo, falando com o parlamento, conversando com os principais empresários brasileiros, falando com a Petrobras, com a Eletrobras, com todo o estado, não tinha dúvidas de que minha colaboração seria um divisor de águas na investigação”, disse-me Amaral numa entrevista no verão passado.

Pela sua cooperação, Amaral vivia em prisão domiciliar na luxuosa mansão de seu irmão, em um dos bairros mais chiques de São Paulo. Quando cheguei para conhecê-lo, uma empregada abriu a porta e me levou, passando por uma piscina e um jacuzzi ao ar livre, a um bar privado decorado com placas de néon para Coors e cerveja Miller, uma jukebox Wurlitzer e memorabilia de celebridades: O capacete de corrida de F1 de Ayrton Senna, a luva de boxe de Mike Tyson, o autógrafo emoldurado de Buzz Aldrin e a guitarra de Eric Clapton.

Amaral deixou em aberto a possibilidade de ele voltar à política. O sistema precisava mudar, argumentou ele, porque a corrupção havia se enraizado muito antes do Partido dos Trabalhadores tomar o poder.

A cena política do Brasil é altamente vulnerável à corrupção. Com dezenas de partidos e eleições em três níveis (federal, estadual e municipal) em um dos maiores países do mundo, as campanhas são extremamente caras e é quase impossível para qualquer grupo político conseguir uma maioria. Ganhar poder envolve ganhar eleições e pagar a outros partidos para formar coalizões, ambas as quais exigem enormes somas de dinheiro. Como resultado, um dos maiores prêmios da política brasileira há muito tempo tem sido o poder de nomear altos executivos em empresas estatais, porque cada executivo poderia esperar receber milhões em propinas de empreiteiras, muitas das quais poderiam ser desviadas para cofres de campanha.

Anformer presidentes brasileiros Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. Fotografia: Mario Tama/Getty Images

O Partido dos Trabalhadores era para ser diferente. Tinha sido eleito com a promessa de limpar a corrupção, mas logo foi sugado para dentro. Depois de ganhar a presidência em sua quarta tentativa, em 2002, Lula tinha ficado preso com uma minoria no Congresso. Seu chefe de gabinete comprou o apoio dos partidos menores organizando pagamentos mensais, conhecidos como mensalão, a maioria pagos por empresas de construção civil em troca de contratos de construção. Embora ilegal, isso permitiu que o Partido dos Trabalhadores conseguisse fazer as coisas. O primeiro mandato de Lula proporcionou progressos impressionantes na redução da pobreza, gastos sociais e controles ambientais. Nenhuma das três administrações subseqüentes do Partido dos Trabalhadores chegou perto de conseguir tanto. Infelizmente, porque as reformas de Lula só tinham passado pelo parlamento com a ajuda do suborno, essas conquistas foram construídas sobre areia movediça ética.

Quando o escândalo do mensalão foi revelado em 2004, o Partido dos Trabalhadores não teve escolha a não ser parar de pagar aos seus parceiros de coalizão, e Lula ficou novamente preso a uma minoria no Congresso. Pior ainda, ele agora enfrentava o perigo de ser destituído. Para evitar isso, ele chegou a um dos maiores rivais de seu partido: o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), liderado por Michel Temer. Este casamento de conveniência estava condenado desde o início.

O PMDB é o maior partido político brasileiro, mas nunca assumiu uma posição ideológica ou um papel de liderança, preferindo fazer acordos para escorar governos. É uma miscelânea de facções, que vão desde proprietários rurais conservadores e social-democratas urbanos até nacionalistas evangélicos e ex-guerrilheiros, cujo único ponto em comum é o desejo de assegurar o patrocínio, prestígio e subornos que vêm com cargos governamentais. O partido tem estado envolvido em todos os escândalos de corrupção da história moderna do Brasil. Mas Lula estava desesperado, então ele fez um acordo. Em troca de apoio no Congresso, o Partido dos Trabalhadores deu ao PMDB de Temer o controle da divisão internacional da Petrobras e dos fundos que dela fluíam. Cerveró, então diretor dessa divisão, foi obrigado a entregar os pagamentos a diferentes mestres. Foi uma tarefa cansativa. Em 2008, Cerveró não conseguiu entregar fundos suficientes e foi forçado a se demitir.

Temer foi nomeado inúmeras vezes em depoimentos de Lavagem de Carros. Julio Camargo, consultor da empresa de construção e engenharia Toyo Setal, disse que o dinheiro foi canalizado da Petrobras para um lobista representando figuras sênior do PMDB, incluindo Temer. Um industrial testemunhou que Temer organizou pagamentos ilícitos nos cofres de campanha do partido e assumiu a liderança do PMDB para controlar quem recebeu os milhões de dólares que estavam sendo desviados da Petrobras, da Odebrecht e de seus fornecedores. Um ex-vice-presidente da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, testemunhou que em 2014 doou secretamente 10 milhões de reais para a campanha política de Temer.

“Esta bomba pode acabar no colo dele de uma forma mais séria do que para Dilma”. Ele está mais envolvido do que ela”, disse uma fonte.

Temer – um advogado constitucional – negou publicamente as alegações, dizendo que as sugestões de ilegalidade eram “frívolas” e “inverídicas”. Apesar da longa lista de acusações, quase nenhuma ficou presa. Outros depoimentos contra ele foram retirados. Nenhuma acusação foi apresentada. Os promotores disseram que não havia provas suficientes. Temer parecia intocável.

No início de 2016, a economia tinha mergulhado em recessão. A causa principal foi um colapso nos preços globais das mercadorias, mas a investigação da lavagem de carros agravou um problema grave. Os promotores tinham ordenado à Petrobras que suspendesse os negócios com muitos de seus empreiteiros, incluindo a Odebrecht, a maior construtora da América Latina. Os projetos estavam paralisados, os trabalhadores foram demitidos e a taxa de desemprego quase dobrou no espaço de dois anos. A atividade política também foi paralisada. A prisão de Amaral havia sacudido os congressistas da suposição de que eles podiam confiar em suas posições para evitar processos, e as relações entre os partidos se tornaram mais hostis.

Senator Amaral me disse que havia advertido repetidamente a presidente Rousseff dos perigos de ir longe demais com a investigação da Lavagem de Carros, mas ela não quis ouvir. “Ela sempre subestimou a lavagem de carros, porque achava que ela chegaria a todos menos a ela”, ele lembrou. “Ela achava que isso a tornaria mais forte”

Uma maioria do público culpou a miséria econômica e o impasse político do Partido dos Trabalhadores, que estava no poder há 13 anos. As taxas de aprovação de Dilma caíram em dígitos simples. Ela era ainda mais impopular no Congresso, devido à sua lamentável capacidade de comunicação, sigilo e teimosia. Vários senadores e deputados poderosos – o Congresso brasileiro tem duas casas, o Senado Federal superior e a Câmara dos Deputados inferior – também ficaram furiosos por a presidente se recusar a deter a investigação da corrupção, ou a proteger os membros superiores de sua coalizão governista.

A candidatura para destituir Dilma como chefe de Estado foi iniciada em novembro de 2015 por um dos políticos mais corruptos do país, Eduardo Cunha, numa tentativa de parar ou desviar a lavagem de carros. Cunha, o presidente da Câmara Baixa do Brasil, foi um aliado de Temer no PMDB, com reputação de esquema e táticas desleais. Ele era também um dos principais alvos dos promotores da Lavagem de Carros. Como provas acumuladas até 2015, eles o acusaram de corrupção e perjúrio após descobrir suas contas bancárias secretas na Suíça, que continham mais de US$ 5 milhões e contas de cartão de crédito testemunhando um estilo de vida pródigo muito além de sua renda declarada de US$ 120.000. O Partido dos Trabalhadores recusou-se a proteger Cunha contra as acusações apresentadas pela comissão de ética da Câmara Baixa. Cunha respondeu concedendo um dos muitos pedidos de impeachment contra Dilma. Ele acusou Dilma de falsa contabilidade – movimentando fundos significativos entre as contas para fazer as finanças do governo parecerem melhores do que eram. Muitas administrações anteriores tinham feito a mesma coisa impunemente, embora não a uma escala tão grande. Mas não era essa a questão. As metas da lavagem de carros precisavam de um pretexto para revidar.

Em 4 de março de 2016, os promotores de justiça detiveram Lula por um breve interrogatório sobre o esquema de propinas da Petrobras. Houve alegações adicionais de tráfico de influências, incluindo acordos garantidos para a Odebrecht em troca de generosos pagamentos a empresas de propriedade dos parentes de Lula. Milhões de manifestantes anti-governamentais saíram às ruas uma semana depois, no dia 13 de março, carregando bonecos infláveis de Lula em roupas de prisão, cantando “Fora Dilma” (Rousseff Out!), carregando faixas e agitando vassouras para simbolizar a necessidade de uma varredura limpa.

Efígies infláveis de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva num protesto em São Paulo em abril de 2016. Fotografia: Cris Faga/CON/Latin Content/Getty

Lula e Rousseff tinham sem dúvida beneficiado politicamente da corrupção, mas é menos claro – particularmente no caso de Rousseff – que eles tinham ganho pessoalmente. Em contraste, a hipocrisia de muitos dos seus acusadores era espantosa. Numa sessão de impeachment parlamentar em Abril, muitos dos que votaram para expulsar Dilma do cargo tinham sido acusados ou estavam sob investigação por crimes muito mais graves.

Em Maio, enquanto o processo de impeachment contra Dilma continuava, Michel Temer tornou-se presidente interino, apesar de ter sido mencionado várias vezes na investigação do Car Wash, juntamente com sete membros do seu gabinete. Os críticos especularam que Temer estava sendo protegido para garantir um grau de estabilidade durante um período de turbulência. Mesmo quando Temer foi considerado culpado, em junho de 2016, de violações eleitorais e desqualificado para concorrer ao cargo por oito anos por um juiz de primeira instância em São Paulo, isso não fez diferença. Como presidente interino, ele foi protegido pela imunidade do cargo. Car Wash, que tinha sido lançado para limpar a corrupção no sistema, acabou ajudando o líder do partido mais notoriamente auto-serviço do Brasil a alcançar o auge do poder.

Os apoiadores de Dilma chamaram-no de golpe, embora o impeachment tivesse sido aprovado pelo supremo tribunal em grande parte nomeado pelo Partido dos Trabalhadores, bem como por grandes maiorias em ambas as casas. Temer insistiu que a letra da lei tinha sido seguida. “O Brasil passou por um período difícil de disputas políticas, mas a Constituição foi honrada”, insistiu o novo presidente. Logo depois, porém, ficou claro que muitos de seus apoiadores tinham sido motivados pela autopreservação e não pela salvação nacional.

No primeiro mês de Temer como presidente, mais três de seus ministros foram forçados a se demitir como resultado de conversas telefônicas gravadas secretamente, o que confirmou que Dilma tinha sido expulsa porque ela não cancelaria a investigação da Lavagem de Carros.

“Temos de parar esta merda… Temos de mudar o governo para podermos parar esta hemorragia”, disse um dos principais conspiradores, Romero Jucá – o líder da PMDB na Câmara Alta – a Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, a maior empresa brasileira de transporte de petróleo e gás. Sem o conhecimento de Jucá, a conversa estava sendo gravada. Nessa chamada, em março de 2016, Jucá revelou que havia discutido o plano com juízes do Supremo Tribunal Federal e comandantes militares: o objetivo era usurpar Rousseff e substituí-la por Temer. Jucá sustenta que suas palavras foram retiradas do contexto.

Mas tirar o Partido dos Trabalhadores do governo foi apenas o primeiro passo para parar a Lavagem de Carros. Os conspiradores tinham outro problema: Teori Zavascki, o juiz da Suprema Corte que supervisionava a investigação, que se mostrou incorruptível.

“Uma maneira (para parar a operação) é encontrar alguém que tenha acesso a Teori, mas parece que não há ninguém”, diz Machado na gravação.

“Ele está fechado”, concorda Jucá.

Este obstáculo não ficou no lugar por muito tempo.

Durante uma trovoada em 19 de janeiro de 2017, um avião Hawker Beechcraft caiu no oceano perto de Paraty, 150 milhas a oeste do Rio de Janeiro, matando as quatro pessoas a bordo. O avião estava a caminho de São Paulo para o Rio. Poderia ter sido visto como apenas mais um acidente de aviação, não fosse o fato de uma das vítimas ter sido o juiz Teori Zavascki.

O momento e a natureza do acidente inevitavelmente levantaram suspeitas. Zavascki estava em processo de revisão de inúmeros testemunhos da lavagem de carros que se esperava que implicassem ainda mais os políticos no Brasil e em outros países da América Latina. Sua família disse que ele tinha recebido ameaças no ano anterior.

Os achados iniciais dos destroços do avião e do gravador de voz do cockpit sugeriram que não houve falha mecânica. O piloto tinha experiência e tinha dado lições a outras tripulações sobre como aterrar na pequena pista de Paraty. Mas os aviões pequenos têm um terrível recorde de segurança no Brasil. Especulações na mídia sugeriram que ou o piloto tinha feito um erro fatal de julgamento da altitude ou o avião e seus passageiros foram vítimas de um jogo sujo.

Sejam quais forem suas causas, as conseqüências do acidente foram de longo alcance. Zavascki tinha mantido a credibilidade da investigação face à oposição política feroz, e tinha decidido sobre alguns dos seus casos mais controversos. Ao ouvir a notícia da morte do juiz, Moro disse: “Sem ele, não haveria nenhuma operação de lavagem de carros.”

Judge Sérgio Moro, que incessantemente perseguiu processos no caso da lavagem de carros. Fotografia: Brazil Photo Press/CON/LatinContent/Getty Images

Zavascki exemplificou a postura idealista e, em última instância, auto-sabotadora do Partido dos Trabalhadores em sua relação com o sistema de justiça. Depois que o partido tomou o poder, juízes, promotores e policiais receberam muito mais espaço para agir. Sob a anterior administração conservadora, o procurador-geral tinha arquivado tantas investigações incompletas que foi apelidado de engavetador-geral (shelver-in-chief). Lula, ao contrário, deixou os promotores elegerem um novo procurador-geral – Rodrigo Janot – que era tão independente que aprovou as acusações contra Lula, o fundador do Partido dos Trabalhadores.

“Antes de Lula tomar o poder, estávamos sem dentes”, disse Luis Humberto, do sindicato da Polícia Federal. “O Partido dos Trabalhadores aumentou nosso orçamento, melhorou nosso equipamento e nos deu mais autoridade”. É irônico. Eles perderam o poder porque fizeram a coisa certa”

Temer escolheu um de seus aliados próximos para substituir Zavascki. Alexandre de Moraes, que era ministro da justiça, foi direto do gabinete para o mais alto tribunal. Foi uma clara violação do princípio constitucional da separação dos poderes. Vários dos senadores que confirmaram a sua nomeação foram colegas ministeriais – incluindo Jucá e o chefe da Câmara Alta, Renan Calheiros – que foram acusados no caso da lavagem de carros. Quando um juiz do Supremo Tribunal ordenou que Calheiros se demitisse enquanto aguardava julgamento, Calheiros simplesmente o ignorou. Moraes, que não tinha experiência como juiz, é agora um dos 11 juízes da Suprema Corte que irão ouvir seu caso.

No Congresso, enquanto isso, o bloco governante liderado pelo PMDB tentou repetidamente – até agora sem sucesso – mudar a lei para que os testemunhos resultantes de pleitos não sejam mais admissíveis no tribunal. Isso permitiria que dezenas de políticos escapassem a possíveis condenações.

Até agora, os investigadores da lavagem de carros têm resistido à pressão política e expandido a sua lista de alvos. Depois de mudar o foco da Petrobras para a Odebrecht, em abril de 2017 promotores abriram novas sondas em dezenas de outros políticos de todos os lados do espectro político, incluindo oito membros do gabinete de Temer. Em seguida, ampliaram sua rede para incluir a JBS, uma das maiores empresas de empacotamento de carne do mundo. Um acordo feito em 18 de maio pelos dois irmãos proprietários da empresa – Joesley e Wesley Batista – inclui gravações secretas supostamente feitas em março, nas quais Temer supostamente discute pagamentos em dinheiro secreto a Cunha, e detalhes de suborno por um dos ajudantes do presidente. O procurador-geral acusa agora formalmente Temer de conspirar para obstruir a lavagem de carros, preparando o terreno para uma batalha constitucional entre o poder judiciário e o governo e provocando apelos no Congresso para o impeachment de um segundo presidente em um ano. Temer nega as acusações.

A teia de corrupção tem sido rastreada muito além das fronteiras do Brasil. A Odebrecht tinha um departamento dedicado ao suborno, conhecido como Divisão de Operações Estruturadas, que estipulou cerca de US$ 800 milhões em pagamentos ilícitos para mais de 100 contratos em uma dúzia de países ao longo de 15 anos. Dezenas de fornecedores corporativos estrangeiros (de equipamentos de engenharia, linhas de energia, plataformas de perfuração, etc.) também enfrentam questionamentos regulatórios e de acionistas sobre os subornos pagos para garantir contratos com a Petrobras. Entre eles estava a Rolls-Royce, que registrou grandes perdas como resultado de penalidades impostas em janeiro deste ano pelas autoridades brasileiras, britânicas e americanas. A Copa do Mundo e as Olimpíadas também foram sugadas para o lodaçal, com investigações de fraude agora focadas em seis dos 12 estádios utilizados em 2014 e 2016.

A investigação abalou a vida política e econômica e levantou esperanças de que, por uma vez, a justiça seja aplicada aos ricos e poderosos. Houve um gênio na forma como a prisão de Ishii em Cerveró abriu o caminho para os julgamentos dos políticos. Vários senadores, congressistas e governadores antes intocáveis estão agora na cadeia, incluindo Cunha. Poderosos empresários também foram colocados atrás das grades, incluindo Marcelo Odebrecht, o chefe da vasta empresa de construção civil. Até mesmo o famoso policial Ishii foi suspenso da investigação da Lavagem de Carros depois de perder um recurso contra uma antiga acusação de suborno. Mais do que em qualquer momento da história recente do Brasil, há uma sensação genuína de que ninguém está acima da lei, que os escândalos nem sempre têm que “acabar em pizza”.

Uma fotografia de Michel Temer, presidente do Brasil, num caixão falso durante um protesto no Rio de Janeiro no mês passado. Fotografia: Bloomberg/Getty

A história não está de forma alguma terminada. O Procurador Geral Rodrigo Janot, que deve deixar o cargo em setembro, está sob pressão. Os principais partidos da esquerda e da direita estão alinhados contra a investigação. O governo está tentando dificultar a Operação Lavagem de Carros, cortando o orçamento da Polícia Federal em 44% e reduzindo o número de agentes trabalhando nela. Moro deve manter o público do seu lado enquanto inicia uma série de julgamentos de Lula, que planeja concorrer novamente à presidência em 2018 se ele não for preso.

Brasil certamente necessário para combater a corrupção, que tem exacerbado a desigualdade e impedido o crescimento econômico. Mas será que a Operação Lavagem de Carros valeu a pena? Ajudou a tirar o Partido dos Trabalhadores do cargo e abriu uma administração que parece igualmente manchada, mas muito menos disposta a promover a transparência e a independência judicial. Tantas alegações são agora acumuladas contra Temer e seus aliados que ele lutará para manter sua presidência até o final de seu mandato em 2018. A Petrobras – campeã nacional da era Lula – está de joelhos, com empresas estrangeiras autorizadas a controlar a produção dos novos campos petrolíferos. As grandes empresas e os principais políticos têm sido totalmente desacreditados. Os eleitores lutam para encontrar alguém em quem acreditar. Não é apenas o estabelecimento que está cambaleando, mas toda a república.

A longo prazo, muitos ainda esperam que a Lavagem de Carros faça do Brasil uma nação mais justa, mais eficiente, dirigida por políticos mais limpos e cumpridores da lei. Mas há também o risco de a operação abalar a frágil democracia do país e abrir caminho para uma teocracia evangélica de direita ou um retorno ao governo por parte dos ditadores. Se esta purgação prova ou não uma cura para o Brasil dependerá não só de quem cai, mas de quem segue.

Pesquisa adicional de Shanna Hanbury e Gareth Chetwynd. Ilustração principal de Suzanne Lemon.

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